quinta-feira, 28 de junho de 2012

Fui inventado

Se acaso
tu me encontrar
em algum caminho
tenha a certeza
absoluta
de que não sou eu
só alguém
muito parecido
ou talvez o cara
que tu queria que eu fosse

aquele eu
por ti inventado.

Rebanho

Vejo caras conhecidas
nestes rostos tão estranhos
realidade adormecida
jogo de perdas e ganhos.

Coisa velha, amanhecida,
agonia sem tamanho
a passagem prá descida
é a porta que arranho.

Vejo caras conhecidas
nelas olhos suicidas
indo juntos com o rebanho.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Bagagem

juntei tudo o que não queria mais
e guardei em algumas malas
pus num trem de carga
com destino ao lugar
de onde nunca deveriam ter saído:
o passado.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Recusa

As entranhas encontram o punhal
a dor se esquece do aviso
a história encontra o final
e a boca se esquece do riso

o dia encontra a tristeza
a foto esquece o sentido
a lágrima encontra a correnteza
a mensagem esquece o prometido

o pedido encontra a renúncia
o espelho se esquece do rosto
a conversa encontra o silêncio
e a gente se esquece um do outro.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Passarela

Não são os carros
nem as pessoas
que olho lá embaixo.
Não espero ninguém.
Nem o trem.

É só a minha forma de buscar alívio
nessa minha falsa vontade
de cometer suicídio.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Represa

de novo
de volta
à estaca zero
ponto de partida
e ponto de chegada

cada vez pior
que da última vez
cada vez mais pedra

cada vez mais pedras
estancando
minha correnteza

e agora
sou fortaleza.

Eternos milésimos de segundo

Naquela fotografia
Ficamos estáticos
Esperando o mágico
Momento da eternidade
Quando na realidade
Ele é um pássaro
Que tão sarcástico
Nunca pousaria.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Frio

Sem lágrimas
nem dor
nem nada

O silêncio
de uma face morta
num retrato
3X4.

Fliperama

fim de noite
perda total

outro nocaute
e mais sangue derramado
outro blecaute

fim de jogo
acabaram-se as fichas.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Nessacidade 2

no bar
há sempre uma cadeira vazia na minha frente

o silêncio
de uma presença distante

ausência convidada
os meus fantasmas
continuam presentes

quem, diabos,
estou esperando?

O andarilho

O andarilho
e sua gaita de boca
no campo de milho
a voz um tanto rouca.

O espantalho
seu parceiro crucificado
com as vestes de retalhos
e o corpo todo furado.

O andarilho
escorado no joelho
encostado no espantalho
do chapéu vermelho

Pega sua gaita
e faz um floreio.

Tem sangue no olho
e ouve os conselhos
do boneco caolho
sentado no orvalho
na canção ele mergulha
as notas saem parelhas
com seu coração em frangalhos
(como quem puxa o gatilho
e só provoca fagulhas).

E vai andando o andarilho
numa busca sem atalhos
o solitário maltrapilho
do cabelo já grisalho

Segue o rumo da direita
e some na estrada escura.
O andarilho sequer suspeita
que é a si mesmo que procura.

Blister de qualquer coisa forte

algo pra apurar os sentidos
ou desacelerar o tempo
alguma coisa forte
no meio desse nada
acompanhado de uma dose
bem servida de lava.