quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Natimorto

tem metade de uma pizza no forno
o caminho pra casa foi longo
fiquei exausto
dormimos pouco
dormimos bem
de alma lavada

tem metade de uma pizza no forno
pode comer agora
está fria
como eu estava
antes de te ver.

sábado, 17 de novembro de 2012

Nyx

sou pedaço do primeiro
cenário da desordem
Caim

a câmara de gás
o holocausto
o estopim.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Subtração

Não poderia ter sido diferente
daquela vez
foi pior que das outras anteriores
assumi de vez
minha insignificância
e a cada vez
que o sol se punha
arrastava consigo
um pouco das coisas boas
às quais eu me agarrava
e o dia seguinte
não me trazia nada em troca

e hoje não sou nem a sombra
daquilo que eu tentava ser.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Migalhas

Dê adeus àquelas canções desgastadas
elas não dizem nada agora
não têm o frescor da novidade
até porque o teu rumo é outro
tu pegou um desvio
antes de se chocar comigo
de frente.

Dê adeus àquelas canções desgastadas
despeça-se
são elas que encontro
no rastro que tu deixou
e, feito um mendigo,
alimento-me delas
migalha por migalha.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Carne-viva

assassino meus desejos
engulo com lágrimas e tudo
o gosto é terrível
seguro a golfada
o vômito
engulo de novo
minhas mãos suam
gelado
veias dilatadas
no pescoço
com dentes cerrados
aguento no osso.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Planetário

passantes dispersos
ponho os óculos
comigo converso
fico invisível
imerso
eterno observador
do universo.

domingo, 23 de setembro de 2012

Meu coração

Não é que tenha morrido
é só algo podre
em decomposição
repleto de vermes
que insisto
em carregar
comigo.

sábado, 22 de setembro de 2012

Invisível

Então me calo
não precisamos nos machucar
deixemos tudo assim

Afasto-me aos poucos
de todos
imperceptivelmente
sumo

Então me calo
apago as luzes
faço silêncio
fico mudo

E, feito cego,
caio num buraco
corto-me
sangro
e enfim
vem o pranto
não escondo
ninguém vê.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Prontidão

Deixe brilhar
está quase no eixo
aquela selva lá fora
me chama assim mesmo

Deixe brilhar
está quase pronto
aquela anarquia lá fora
me convoca assim mesmo

E ao anoitecer
o mundo irá desabar
num estalar de dedos
eu sei
mas deixe brilhar
esta pobre fagulha
é tudo o que tenho agora
partirei assim mesmo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Desvio

Vá sozinha
quero te ver
como da última vez que a vi
perdida
sem rumo

Eu poderia tê-la ajudado
mas não quero bagunçar de novo
teu coração confuso

Vá sozinha
quero te ver
advinhando meus pensamentos
sentindo minha agonia

Não vá
eu sei lidar com isso sozinho
eu me viro
não quero te ver.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ida

fala
tudo
de uma vez

antes que tudo se perca
e nossos destinos
nunca mais
voltem a se cruzar

fala
mesmo que não dê tempo
de dizer adeus.

domingo, 16 de setembro de 2012

Via de mão dupla

meus caminhos
ninguém sabe
quem sabe um dia
meus amigos me encontrem
e me estranhem

folha à mercê do vento
caindo entre os pés
do acaso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Não preciso passar por isso novamente

Estou sentindo de novo
com tua aparição
aquele lance
de dependência

Uma cega
entrega total

Estou sentindo de novo
aquele frio na barriga
e creia-me
não é nada bom.

Anfetamina

Escolha as vermelhas
quando nada mais
fizer sentido
quando as portas
estiverem trancadas
aquela música
irá fazer com que tu saia
chutando tudo

Escolha as vermelhas
quando nada for o suficiente
quando ninguém mais
entender tuas palavras
aquele teu poema
batido à máquina
esquecido há muito tempo
pode vir a fazer sentido agora

Escolha as vermelhas
num dia de cão
ouvindo tantos nãos
um beijo negado
o desagrado
o rastro de sangue
no asfalto
no chão.

Hematomas

a parede
está manchada de sangue
do meu rosto
agonia sem fim
coisa ruim
que ninguém
tira de mim.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Zênite

O dever está cumprido
mas não há expectativas
para o depois

Sinto que não haverá continuidade
diferente das outras vezes

A ânsia não passa nunca
estou à beira do abismo
tem um relógio andando pra trás
não há nada além
do próximo passo
só o vácuo
o infinito
serei agonia
do início ao fim.

Morrer é assim?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Segundo plano

Faltou o ar
os dedos adormeceram
apaguei

Justo quando
o disco acabou
e a máquina registrava
a última foto do rolo do filme

Não havia ninguém
só o silêncio
e o céu pegando fogo
como plano de fundo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mal sabes tu
Que de mim, fazes o que bem quer!

Tu me tens além da matéria
Etérea e concreta

Além do ser
E mesmo relutante
Admitido:
-És TU a causa, a razão!
Do sorriso,
Ao gemido.

Taís De Araújo Pereira

Descida

Lembre-se de mim
na sexta-feira

Com o nariz quebrado,
emboletado

Auto-destruição
costumeira
derradeira

Descendo sem freio
na ladeira.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Epílogo

Daqui
dos escombros
pensei ter ouvido
gritarem meu nome

era alarme falso

eco vazio
saído da minha mente

fluxo do rio
indo contra
sua própria corrente.

Prólogo

essa calmaria absoluta
(velha conhecida)
leve farfalhar de folhas
que antecipa
o furacão.

Redial

O não dito
numa ligação

a pulsação

contando o pulso
cortando impulsos.

Fugaz

o toque
de mãos
femininas
pequeninas

etérea ternura
agora vertida
em imensa saudade.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Incursão

Os caminhos estão em chamas
meus sapatos derretem
as roupas viram cinzas
minha pele derrete
os ossos viram cinzas

E só sobra isso
que chamam de alma
mas que eu prefiro chamar de poema

domingo, 8 de julho de 2012

Imagem

De repente
sinto teu gosto
e quase gosto
e me afundo em lembranças
e te encontro por lá
intocável miragem

-Desculpe a intromissão,
estava só de passagem.

Das tempestades

o vento
vendaval
que invento
temporal
dentro
de um copo d'água.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

Manhã

Acordar com mosquitos mortos nos ouvidos
Lembrando a noite passada
Rastros, ratos, raptos
Rápidos momentos de alegria.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Fui inventado

Se acaso
tu me encontrar
em algum caminho
tenha a certeza
absoluta
de que não sou eu
só alguém
muito parecido
ou talvez o cara
que tu queria que eu fosse

aquele eu
por ti inventado.

Rebanho

Vejo caras conhecidas
nestes rostos tão estranhos
realidade adormecida
jogo de perdas e ganhos.

Coisa velha, amanhecida,
agonia sem tamanho
a passagem prá descida
é a porta que arranho.

Vejo caras conhecidas
nelas olhos suicidas
indo juntos com o rebanho.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Bagagem

juntei tudo o que não queria mais
e guardei em algumas malas
pus num trem de carga
com destino ao lugar
de onde nunca deveriam ter saído:
o passado.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Recusa

As entranhas encontram o punhal
a dor se esquece do aviso
a história encontra o final
e a boca se esquece do riso

o dia encontra a tristeza
a foto esquece o sentido
a lágrima encontra a correnteza
a mensagem esquece o prometido

o pedido encontra a renúncia
o espelho se esquece do rosto
a conversa encontra o silêncio
e a gente se esquece um do outro.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Passarela

Não são os carros
nem as pessoas
que olho lá embaixo.
Não espero ninguém.
Nem o trem.

É só a minha forma de buscar alívio
nessa minha falsa vontade
de cometer suicídio.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Represa

de novo
de volta
à estaca zero
ponto de partida
e ponto de chegada

cada vez pior
que da última vez
cada vez mais pedra

cada vez mais pedras
estancando
minha correnteza

e agora
sou fortaleza.

Eternos milésimos de segundo

Naquela fotografia
Ficamos estáticos
Esperando o mágico
Momento da eternidade
Quando na realidade
Ele é um pássaro
Que tão sarcástico
Nunca pousaria.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Frio

Sem lágrimas
nem dor
nem nada

O silêncio
de uma face morta
num retrato
3X4.

Fliperama

fim de noite
perda total

outro nocaute
e mais sangue derramado
outro blecaute

fim de jogo
acabaram-se as fichas.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Nessacidade 2

no bar
há sempre uma cadeira vazia na minha frente

o silêncio
de uma presença distante

ausência convidada
os meus fantasmas
continuam presentes

quem, diabos,
estou esperando?

O andarilho

O andarilho
e sua gaita de boca
no campo de milho
a voz um tanto rouca.

O espantalho
seu parceiro crucificado
com as vestes de retalhos
e o corpo todo furado.

O andarilho
escorado no joelho
encostado no espantalho
do chapéu vermelho

Pega sua gaita
e faz um floreio.

Tem sangue no olho
e ouve os conselhos
do boneco caolho
sentado no orvalho
na canção ele mergulha
as notas saem parelhas
com seu coração em frangalhos
(como quem puxa o gatilho
e só provoca fagulhas).

E vai andando o andarilho
numa busca sem atalhos
o solitário maltrapilho
do cabelo já grisalho

Segue o rumo da direita
e some na estrada escura.
O andarilho sequer suspeita
que é a si mesmo que procura.

Blister de qualquer coisa forte

algo pra apurar os sentidos
ou desacelerar o tempo
alguma coisa forte
no meio desse nada
acompanhado de uma dose
bem servida de lava.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Fantasma no smog

Sou a fumaça
que tu soprou
e tu ficou
e me fui
e sumi
não sem antes
tocar de leve
tuas entranhas

Breve arrepio

Fui espectro lhe atravessando
somente encontrando o vazio
de mim mesmo.

Oferenda


Do que emociona
Eu me distancio

O hematoma
Que evidencio

O sintoma
Presencio

O que aciona
Meu anúncio:

Toma:
Meu silêncio.

Um degrau abaixo

Absorto
entre a linha e o canudo
rasgando as narinas.

Absurdo
o comprimido e a goela
já não se entendem mais.

Abstrato
como sombras e rastros
e meteoros caindo.

Absoluto
o vazio
obscuro
de um pretérito
sem futuro.

Vísceras

Antes
o aurora reticente
o frio agora frequente
dos males, o mais recente
que invento.

No meio
da súbita viagem
a lúdica imagem
da nítida passagem
do tempo.

Agora
a impressão da inércia
funde-se à noção inversa
do pensamento imerso
em movimento.

Depois
o silêncio agonizante
o ataque fulminante
o soco debilitante
deste momento.

Alegria fugaz

E na rua
Ficam me olhando
Como se me vissem.
E comigo
A certeza
De uma face ineficaz.

E na praça
Fico bebendo e rindo
Mas comigo
A tristeza
De uma alegria fugaz.

Estado crítico

Já é outubro
E meu nome
Está perdendo seu ímpeto
Tornando-se vago,
Perdendo seu âmbito.

Já é outubro
Preciso de algo
Preciso de álcool
Preciso precisar de algo.

E já é outubro
E estou perdendo o ímpeto
Não há abraços cálidos
Nem sorrisos límpidos.

Estou ficando gélido,
O estado é crítico.

Contagem Regressiva

Morri numa rotina
Num dia qualquer
Pensando na vida
Bebendo um café.

Morri após um abraço
De uma amiga minha
A caminho do colégio
Numa praça vazia.

Morri ao sair do bar
Numa noite de excessos
Querendo achar graça de mim
Não tendo muito sucesso.

Morri com a certeza
Que era a hora precisa
Num relógio infalível
Em contagem regressiva.

Nessacidade

Sinto muita falta do que nunca tive.
Preciso criar memórias falsas e sentir
saudade. Preciso conversar com
meus fantasmas.

O breu

a voz embargada
a tua, abafada
o adeus.

a mão trêmula
a tua, frêmita
o apogeu.

os olhos empoçados
os teus, fechados
o breu.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Predestinado

Um poema
de conteúdo etílico
escrito em letras garrafais

delirante
febril

Num guardanapo
amassado no bolso da calça
fadado ao esquecimento.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Coma nº 7

arrastar-se pra casa
catarse constante
o coma
restos e mais restos
de si mesmo
deixados pra trás
desde o parto
desde o berço
no rastro
do tempo.